Quando surgiu a idéia de promover um bate papo entre Leila Da Cruz e Vitorino Campos, a primeira coisa em que eu pensei foi o quanto rica seria a troca de informações entre duas pessoas que atuam num ramo tão promissor: a moda na Bahia.
Vitorino Campos foi revelado há dois anos através do Concurso Novos Talentos para novos estilistas no Shopping Barra. Já foi citado pela Revista Vogue Brasil como um dos nomes que pode levar a moda da Bahia para o resto do Brasil, e, é considerado um importante referencial da alta moda sob medida no país.
Ela, Leila Da Cruz , vencedora do mesmo concurso na edição 2010, apresentou-se esse ano como estilista convidada no Barra Fashion e foi apontada com umas das principais apostas no cenário fashion da Bahia. Confira o bate papo entre esses dois talentos.
LEILA: Como é pra você ter tido a oportunidade de dar inicio e projeção ao seu trabalho no lugar onde você nasceu?
VITORINO: Na verdade, as oportunidades acontecem para as pessoas que acreditam em seu trabalho. Acredito no meu trabalho, e, quando esse é o primeiro passo, independe do lugar.
LEILA: Quais as suas considerações sobre a estruturação do setor de moda da Bahia? Você percebe as diferenças e os resultados dessas ações?
VITORINO: Que a moda passa a ganhar forma na Bahia é uma verdade. Essa é a hora de aproveitar as oportunidades e construir os alicerces, para que possamos alavancar a moda baiana.
LEILA: Fala-se mais sobre moda nos últimos anos. A abordagem da moda aparece com mais força na publicidade, nas novelas, na mídia em geral. É um assunto recorrente entre adolescentes. Aonde você acha que isso vai parar?
VITORINO: Tudo o que é muito cheio transborda. E penso que com a moda não será diferente. Vejo o futuro da moda com pessoas únicas, que não discutem mais as tendências. Uma evolução.
LEILA: Trabalhar com moda virou carreira de sonho para mais pessoas. Há quem desista das clássicas formações ou tradições profissionais de família e escolha trabalhar com moda. Talvez pela abordagem constante do assunto na sociedade atual. Mas com tudo isso, fala-se já o suficiente sobre o assunto moda?
VITORINO: A moda sempre esteve presente na sociedade. Não é a toa que, se perdêssemos todos os livros que contam a História, só através da moda teríamos a capacidade de ilustrar o passado. Hoje temos um acesso mais fácil à informação, inclusive à de moda, fazendo com que a notícia seja não apenas abundante, mas chegue às pessoas mesmo sem que elas queiram ou esperem. Um verdadeiro bombardeio.
LEILA: Percebo que a sua aparição no mercado baiano de moda e a crescente aceitação que você teve, conquistando seu espaço na Bahia e sendo citado e elogiado por figuras importantes, deu um impulso novo aos criadores locais. Como você vê isso?
VITORINO: Fico feliz em saber disso justamente através de você, que foi a última ganhadora do Novos Talentos do Barra Fashion. Fomentar a moda, principalmente na Bahia, será sempre o meu papel.
LEILA: Cada um de nós tem um caminho, um diferencial. Admiro muito o seu trabalho e você já demonstrou admirar o meu. Isso só ajuda o fortalecimento e representação da moda baiana. Comenta um pouco sobre isso.
VITORINO: Os estilistas precisam, sim, se unir, cada um com seu perfil, com a sua história, dando ainda mais força para esse movimento na Bahia.
LEILA: Há algo em comum nos temas das nossas coleções. Elas dizem de emoções que nos tocaram muito intimamente. Temas que nos moveram e nos arrebataram. Como é pra você essa construção do tema da coleção?
VITORINO: Para mim, é a última parte da coleção. O conceito é amadurecido durante todo o processo.
LEILA: Já tem o nome da próxima?
VITORINO: A mais recente se chama A Partida, e, o Inverno 2011 ainda está em construção.
LEILA: Comigo as coisas vão convergindo. Eu me sensibilizo, presto atenção no que estou falando, e, então se configura o tema da coleção. Há algum estilista cujo tema das coleções você admire mais?
VITORINO: O Ronaldo Fraga. Para mim, ele é um grande exemplo desse processo.
LEILA: Existem aqueles estilistas que nos satisfazem ver, né?Aqueles cujo trabalho, eu chamaria de obra. Quais são os que causam essa sensação em você?
VITORINO: Bottega Veneta. É lindo de se ver!
LEILA: Quais estilistas lhe instigam?
VITORINO: Gloria Coelho, Lino Villaventura, Alexander McQueen, Martin Margiela, Valentino, Gareth Pugh e Givenchy.
LEILA: Falei há pouco que você deu novo fôlego à moda baiana e motivou outros criadores. E antes de você surgir nesse cenário, algum criador baiano lhe causou esse efeito?
VITORINO: Márcia Ganem e Luciana Galeão são grandes exemplos da moda na Bahia, e, sempre chamaram a atenção do meu olhar.
LEILA: Tem algum nome, ainda não consolidado, sobre o qual você gostaria de dizer “gravem bem este nome”?
VITORINO: As formas do Vinícius Cerqueira são algo de realmente novo. Ele é uma aposta real.
LEILA: Dou grande importância às trilhas sonoras dos meus desfiles. Defino-as bem antes e as escuto durante todo o processo realimentando a sintonia com o tema. Como você faz a escolha das musicas para sua passarela?
VITORINO: Na verdade, a música é o primeiro passo para o desenvolvimento da coleção. Ela faz a moldura e vem antes de qualquer coisa da passarela. É um ponto que me preocupa bastante. São músicas que entram em processo de amadurecimento. Elas me acompanham por um tempo.
LEILA: Que projetos você tem para 2011?
VITORINO: Em termos de trabalho, a mudança para a nova fábrica e a chegada de novas linhas.
LEILA: E o que você deseja ainda fazer caber na pauta de 2010 (risos)?
VITORINO: A conclusão da campanha de inverno que é mais imediata, e, concretizar minhas ideias para projetos sociais, de modo que a visibilidade da marca possa ajudar instituições e, consequentemente, pessoas.
