Explorando o tema Alteridade, o 13º Festival Artes Vertentes, reconhecido como um dos principais eventos de artes integradas no país, reúne em sua programação uma série de nomes importantes da literatura, recebendo atrações nacionais e internacionais. Entre os dias 19 e 29 de setembro, a histórica cidade mineira de Tiradentes se transforma em um palco aberto para uma série de manifestações artísticas e intelectuais voltadas para refletir sobre a temática proposta para este ano. A programação reúne concertos, exposições, exibições, espetáculos de artes cênicas, bate-papos, lançamentos, residências artísticas, oficinas, shows, além de uma série de atividades voltadas para a promoção das artes e do conhecimento.
A proposta é oferecer uma programação que seja capaz de promover reflexões acerca da importância de se respeitar as individualidades e a construção coletiva na busca pela compreensão das diferenças. “Estamos convictos de que reconhecer a existência de pessoas e culturas singulares e subjetivas, que pensam, agem e entendem o mundo de suas próprias maneiras é um primeiro passo importante para a formação de uma sociedade justa, equilibrada, democrática e tolerante. Estamos empenhados em realizar esta reflexão de forma plural e diversificada”, destaca Luiz Gustavo Carvalho, curador e diretor artístico do Festival Artes Vertentes.
Entre as diferentes áreas artísticas que integram as atrações do festival, a Literatura recebe uma programação intensa, reunindo nomes do Brasil e do exterior, muitos deles inéditos no país. Rodas de conversa, leituras performáticas e lançamentos de livros são algumas das ações promovidas pelo Festival Artes Vertentes. Toda a programação dedicada à Literatura do festival é gratuita e será realizada em diferentes espaços da cidade histórica.
A programação literária terá início com o tradicional Ciclo de Ideias, organizado pelo Festival Artes Vertentes para refletir sobre aspectos do mote curatorial de cada edição. No dia 21 de setembro, às 11 horas, no Jardim do IPHAN, a primeira conversa do ciclo discute formas de educação fora das paredes escolares com a participação de Vó Geralda, autora do livro A porta aberta do sertão: histórias de Vó Geralda, da educadora e liderança indígena Dona Liça Pataxoop e Isabela Nogueira.
No mesmo dia, a poeta franco-alemã de origem russa Marina Skalova, que está pela primeira vez no Brasil, lança seu livro Falta de ar, primeira antologia da escritora e artista multilíngue nascida em Moscou em 1988. De forma inédita, a Editora Ars et Vita apresenta ao público brasileiro os 43 poemas bilíngues, em francês e alemão, com tradução e posfácio da poeta Prisca Agustoni, em uma edição trilíngue. Com poemas divididos em quatro eixos temáticos, a poeta explora diálogos entre o corpo e a natureza, o erotismo, as palavras ditas e as não ditas. O corpo se torna objeto da escrita plurilíngue, que por sua vez também toma formas metalinguísticas. A palavra, o silêncio e o carnal, aqui, estão em constante encontro e desencontro, complementados pelo uso simultâneo do francês e do alemão e, agora, do português.
O evento de lançamento está marcado para as 16h, no Centro Cultural da UFSJ, e irá contar com a participação da autora, que fará algumas leituras de peças da obra, acompanhada pela violinista portuguesa Sofia Leandro e pelo percussionista Bruno Santos. Entre as peças que serão executadas pelos músicos para acompanhar a performance da autora, estão: Mientras, de Matías Padellaro; Estudio #5 e Folclore, de Javier Alvarez, a Lua Girou, de Milton Nascimento e peças de Harry Crowl, como Sonata 2020 (para um ano que não existiu), Concerto nº4, para violino e percussão, em forma de via-crucis sobre o nome de Marielle Franco, Statio XIII e Statio XIV.
No dia 22 de setembro, às 10h, no Sítio Serra Azul, que fica na zona rural de Tiradentes, um Café Literário com Vó Geralda celebra o lançamento do livro A porta aberta do sertão: histórias da Vó Geralda (Relicário, 2024), de Geralda Brito Oliveira, Isla Nakano e Renata Ribeiro. A proposta é que o público participe de um bate-papo com as autoras, enquanto se delicia com uma mesa recheada de quitandas mineiras e de um café coado na hora. A obra celebra a oralidade e a tradição de contar histórias.
Joaquim Arena, vencedor do Prêmio Oceanos 2023 desembarca na histórica cidade mineira no dia 22. Vencedor na categoria prosa pelo livro “Siríaco e Mister Charles” (Gryphus Editora, 2024), participa de um Café Literário na Taberna d’Omar às 16h. O premiado livro do autor caboverdiano acompanha a história da improvável amizade entre o jovem Charles Darwin e Siríaco, um velho negro, ex-escravizado, que sofre de vitiligo. Sobrevoando os territórios da História e da imaginação, este é um romance sobre cumplicidade, raça, racismo, império e memória.
No mesmo dia, às 20h, a soprano Manuela Freua e a violinista Sofia Leandro apresentam o concerto Fragmentos Kafkianos, no Jardim do Museu Padre Toledo, com execução da peça Kafka-fragmente op. 24, de György Kurtág (1926), baseada em trechos do diário do autor, cartas e texto póstumo. A narrativa assume a forma de uma confissão íntima sem verdadeiro fio narrativo, formando um fascinante caleidoscópio de paisagens emocionais, que mistura doses de humor, sensualidade, desejo e ternura.
No dia 24, às 17 horas, o Ciclo de Ideias A arte do expurgo ou da fraternidade - Leonilson e a contemporaneidade, com a participação de escritor Ricardo Domeneck e o artista visual Alcino Fernandes, aborda a obra do Leonilson, cuja exposição Leonilson: Na cor dos lábios do meu amor integra a programação das artes visuais do Festival.
No dia 25 de setembro, literatura e cinema de encontram no Jardim do Museu Padre Toledo, às 19h, que unirá uma performance literária Leite negro e a exibição de videopoemas do poeta palestino Ghayath Almadhoun. Traduzido para inúmeras línguas, a obra de Ghayath traz como temáticas principais a guerra e a destruição, a morte e a luta, o exílio e a saudade de casa.
Nome incontornável quando se pensa na questão da Alteridade, tema proposto para esta edição, Ailton Krenak volta para Festival Artes Vertentes. Ele participará (presença virtual) numa mesa redonda com Joaquim Arena, no dia 26 de setembro, às 16h30, no Centro Cultural Yves Alves.
Ainda no dia 26 de setembro, às 18h, o poetaRicardo Domeneck apresenta o livro Cabeça de galinha no chão de cimento, nas galerias do Centro Cultural Yves Alves. Na ocasião, o convidado realizará a leitura de poemas do livro e de textos criados durante o processo criativo em diálogo com a exposição Leonilson: Na cor dos lábios do meu amor. Em Cabeça de galinha no chão de cimento (Ed. 34), o poeta retorna às origens, aos ancestrais, às memórias da infância e adolescência no interior, numa tentativa de compreensão de seu lugar e de seu estar no mundo.
No dia 27 de setembro, às 11 horas, a poeta russa Egana Djabbarova e poeta palestino Ghayath Almadhoun participam na mesa redonda sobre exilio político. Egana Djabbarova, filha do pai azerbaijano e mãe georgiana, nasceu na Rússia, mas teve que deixá-la por não concordar com o regime bélico da Rússia de Vladimir Putin, por ser feminista e homossexual e agora está aguardando asilo político num campo de refugiados na Alemanha. Poeta palestino, Ghayath Almadhoun nasceu na Síria. Com medição de Svetlana Ruseishvili, pesquisadora transdiaspórica (
No mesmo dia, haverá mais um lançamento do livro: Todas as crianças do mundo, romance de estreia da aclamada poeta israelense Tal Nitzán, que narra a história delicada de quatro protagonistas humanos e uma gata, em meio à violência arbitrária da vida urbana. Tal Nitzán reúne, com uma prosa lúcida e afiada, três vidas cuja quietude apenas esconde a tempestade de emoções interiores. As múltiplas narrativas que atravessam o livro trazem à flor das páginas uma cidade e suas almas perdidas. Cada frase cuidadosamente tecida, permeada pelo universo poético visceral de Tal Nitzán, acrescenta profundidade à questão central do primeiro romance da autora israelense: como podemos superar nossas solidões fundamentais? Contemplativo, mas vibrante como uma pintura de Cézanne, Todas as crianças do mundoencapsula nossa condição moderna: a selvageria da vida urbana, a guerra, distante e próxima, e a nobreza do coração humano.
O penúltimo dia de Festival Artes Vertentes, 28 de setembro, guarda uma intensa programação no campo literário. Às 11h, um Café Literário receberá o pianista Hercules Gomes e o jornalista, escritor e tradutor Irineu Franco Perpétuo na Taberna d'Omar. Criativo representante da tradição do pianista-compositor, com amplo trânsito no repertório erudito e popular, Hercules Gomes falará da diluição das fronteiras dos gêneros na música em conversa com Irineu Franco Perpetuo, autor do livro História Concisa da Música Clássica Brasileira (Alameda Editora).
Já às 16h, um Café Literário reunirá a escritora russa Egana Djabbarova, escritora franco-alemã de origem russa Marina Skalova, a poeta suíça radicada no Brasil Prisca Agustoni e a tradutora russa Maria Vragova, também na Taberna do Omar. Na conversa serão abordadas questões de autotradução e tradução, já que a Marina Skalova e Prisca Agustoni se autotraduzem de várias línguas e Maria Vragova traduz de russo para português e vice-versa.
Fechando a programação do dia, as poetas Prisca Agustoni e Egana Djabbarova participam da performance literária O que vocês têm a dizer?, no Jardim do Centro Cultural Yves Alves, às 18h. Na ocasião, Egana Djabbarova lança pela primeira vez no Brasil o seu livro de poesia Rus bala (Ars et Vita, 2024). Rus bala significa em azeri “Criança russa”, que seria a própria Egana Djabbarova, menina, nascida na Rússia, filha do pai azeri e mãe georgiana, só que a Egana, com seus traços fortes caucasianos, nunca foi considerada como russa no seu país natal. A sua poesia fala de não aceitação de outro, de racismo e xenofobia, da guerra e da paz. Prisca Agustonitambém irá participar de leituras a partir do seu livro "O mundo mutilado", no qual afirma: "a língua não / tem arame farpado nem / renúncia possível". Finalista do Prêmio Jabuti, o livro é uma resposta da poeta à consternação diante da crise migratória do século XXI. Prisca Agustoni venceu a última edição do Prêmio Oceanos, um dos prêmios literários mais importantes dos países lusófonos, na categoria poesia, pelo livro “O gosto amargo dos metais”.
O último Ciclo de Ideias Diálogo árabe-israelensedebaterá o conflito entre Israel e Palestina e conta do poeta palestino Ghayath Almadhoun, com mediação dos curadores de cinema Aaron Cutler e Mariana Shellard. O debate acontece às 16 horas, logo depois da sessão cinematográfica com os filmes Casamentos proibidos na Terra Santa, de Michel Khleifi e Diálogo árabe israelense, de Lionel Rogosin.
Concluindo a programação literária do evento, o escritor e neurocientista Sidarta Ribeiro participa do Café Literário, às 17h30, na Taberna d'Omar, numa conversa a partir do livro Sonho Manifesto(Companhia das Letras, 2022). Nome indispensável quando se pensa na questão da Alteridade, tema proposto para esta edição, Sidarta Ribeiro estará pela primeira vez na programação do Festival Artes Vertentes. Sidarta Ribeiro é professor titular de Neurociências da UFRN, autor de artigos científicos e livros, entre eles, As flores do bem (Fósforo) e Sonho Manifesto (Cia das Letras).