Primeira mostra de arquitetura e decoração 100% baiana, a Casas Conceito abriu suas portas ao público na última terça-feira, 7, e poderá ser visitada até o dia 16 de setembro, na Rua Estácio Gonzaga, 640, no Horto Florestal. Ocupando uma área de 12 mil metros quadrados, a mostra está dividida em três espaços: Vila, Casa e Ruína, e é sobre a Ruína o nosso boletim de hoje.
Inicialmente esse espaço nem ia fazer parte da mostra, pois era exatamente como a música do poeta Vinícius de Moraes: “não tinha teto não tinha nada”. Mas o click veio quando a designer de interiores Nathalia Velame viu a ruína e bateu pé firme que queria fazer o espaço dela lá! E assim, o que era uma ruína se transformou no bloco com cinco dos maiores e mais luxuosos ambientes da mostra.
Lá estão o Living e Jantar Jaboticabeira, de Rogério Menezes – cujo escritório foi o responsável pelo master plan da Casas Conceito –, o Living Castanheira, de Aline Cangussú, o espaço Bem Viver, de Ana Paula Magalhães, o Living Rizóphora, de Gabriel Magalhães e Luiz Claudio Souza, o Living Pitangueira, de Nathalia Velame e o Estar Comigo Ninguém Pode, de Naissa Vieiralves e Roberto Leal Neto.
Living e Jantar Jaboticabeira
No espaço, composto de sala de estar, mesa e canto de relaxamento, o arquiteto imprimiu uma atmosfera sofisticada e confortável. “Pensei num ambiente para um casal sênior, amante da natureza, do design e da arte de raiz, que gosta de receber a família e amigos, com conforto e requinte despretensiosos”, contou. Para Rogério, a noção ambígua de interno e externo que havia nas casas rurais onde passou sua infância no interior de Sergipe, e a forma como essas construções dialogam com a natureza existente e a luz natural, serviram-lhe de inspiração. “O ambiente foi projetado para aproveitar a luz natural, tirando partido de uma arquitetura mais aberta e de grandes panos de vidro para poupar energia e utilizar a luz natural”.
A preocupação com a sustentabilidade foi primordial na escolha dos materiais, como a madeira certificada que, segundo ele, foi o insumo mais abundante e nobre do seu espaço. “Ela é natural e será totalmente devolvida para comercialização após revestir todo meu piso, paredes, escada e até o teto”. Ainda na linha sustentável, o arquiteto se apropriou do potencial construtivo da madeira da edificação e aproveitou para desenvolver os móveis do seu ambiente. “Toras de madeira do telhado foram incineradas através de uma técnica japonesa chamada Yakisugi que impermeabiliza o material e destaca características próprias através da queima de camadas superficiais da madeira”, explicou.
Living Rizóphora
Um living bem leve, uma maneira de viver mais suave, integrada com a natureza, envolvida com a pureza dos materiais e com a essência da vida, provocando uma reflexão sobre o papel da casa contemporânea e suas interferências no cotidiano do morador. Esta foi a proposta dos arquitetos Gabriel Magalhães e Luiz Claudio Souza para o Living Rizóphora. “O projeto teve como princípio a utilização de elementos essenciais como a luz natural, vegetação abundante, materiais simples e a arte brasileira”, contou Gabriel.
“O espaço, localizado no bloco da ruína da mostra, propõe um reencontro com as raízes, com aquilo que nos é primordial e, por isso levou o nome de Rizóphora, árvore típica dos manguezais brasileiros”, explicou Luiz Claudio. A árvore, que tem raízes profundas e entrelaçadas, de cor avermelhada, serviu de matéria prima para o escultor Frans Krajcberg, autor da principal obra de arte do espaço, uma escultura dominante no ambiente. Mais do que uma referência específica do passado, a dupla de arquitetos utilizou o tema proposto pela mostra – Raízes – na construção do projeto. “O conceito permeou todas as nossas escolhas: o nome do espaço, os materiais utilizados, o mobiliário, as obras de arte, as texturas, os tecidos, a fragrância do ambiente, chegando até a seleção da trilha sonora”, detalharam.
Bem Viver Jacarandá
A arquiteta Ana Paula Magalhães tirou proveito do terreno acidentado e da vegetação abundante para criar um espaço integrado, onde a praticidade, aliada à qualidade de vida, foram o foco principal do projeto arquitetônico. Totalmente integrado ao ambiente natural, o Bem Viver Jacarandá foi um espaço planejado para pessoas que gostam de viver em harmonia com a natureza, sem abrir mão do conforto e da funcionalidade. Para criar o espaço, a profissional se inspirou nas próprias vivências que marcaram sua vida, aliadas às necessidades da idade madura.
Todo o material encontrado foi reaproveitado pela arquiteta. “Aproveitei tudo que lá encontrei antes de iniciar a obra. Além disso, usei materiais reciclados, tais como madeira e couro reaproveitados, sempre norteada pela questão da sustentabilidade”, detalhou. Segundo ela, assim como em todos os projetos que cria, o conforto, o design, a função e a estética foram considerados. “Tudo isso faz parte da mistura de informações que constroem o espaço e ditam os rumos do projeto”. A arte também foi uma preocupação da profissional na composição do ambiente.
Living Castanheira
Um ambiente que remetesse à própria casa e que fosse ao mesmo tempo um lugar de convivência para receber os amigos. Foi este o princípio que balizou o projeto da arquiteta Aline Cangussú. “Meu objetivo foi unir o que as pessoas gostam e, para isso, criei um jardim para dar ambientação de casa mesmo, mas que pudesse dar também uma conotação de apartamento”, explicou.
Para o Living Castanheira, que tem vista para árvores centenárias, a arquiteta se inspirou em temas que remetessem às raízes para construir o conceito do projeto que priorizou a vegetação, fazendo uso de vasos de plantas da flora brasileira. A proposta, segundo ela, foi que no espaço as pessoas pudessem desfrutar de uma bela vista apreciando vinhos e outros prazeres como a leitura, por exemplo. “Fiz uma adega bem bacana, com uma decoração extremamente acolhedora, criando um ambiente onde as pessoas se sentissem bem”. Tendo a sustentabilidade como norte, Aline Cangussú recorreu a materiais naturais como madeira reflorestada e a fornecedores certificados.
Studio Pitangueira
A designer de interiores construiu um ambiente leve, que valoriza a natureza, a arte, o design e resgata raízes de sua infância. “O Studio da Pitangueira foi criado para um casal apaixonado por arte, amante da leitura, da tranquilidade da natureza, do canto dos pássaros e da paz”, explicou. A paixão pela arte, despertada pela mãe e pela marchand Rita Câmara, foi inserida no projeto, que valorizou a luz natural com grandes vãos trazendo a natureza literalmente para dentro do espaço.
Nathalia apostou na preservação da arquitetura da fachada mantendo os tijolinhos originais da casa, que mesmo desgastados e com o aspecto de ruínas, foram mantidos, provando que histórias podem ser dialogadas e vividas juntas, independentes do tempo. A preocupação com a sustentabilidade foi traduzida nas madeiras de reflorestamento que revestiram as paredes. “Busquei unir a funcionalidade à estética e priorizei o conforto”.
Estar Comigo Ninguém Pode
Os arquitetos Naissa Vieiralves e Roberto Leal Júnior escolheram um nome marcante para o seu Estar: Comigo Ninguém Pode! O conceito do ambiente, segundo Roberto, foi de ser um espaço para um bon vivant, que curte paisagismo, coleciona terrários e gosta de receber amigos. “Tudo muito natural, mas com originalidade”, ressaltou. “Nada mais raiz do que a natureza, seja na parede de hera que já existia, ou nas diversas espécies brasileiras que transpõem os vidros para se integrar ao interior”.
E como sustentabilidade foi a palavra de ordem da Casas Conceito, a dupla optou por fazer a cobertura do Estar Comigo Ninguém Pode com uma telha ecologicamente correta, 100% reciclada de material PET, que tem as mesmas resistências das telhas tradicionais de fibrocimento. A ambientação ganhou ares acolhedores e retrô, com os detalhes pensados pela dupla: “Piso de taco de madeira assentado em ‘escama de peixe’, manta de algodão sobre o sofá, poltronas de ferro com couro sola, remetendo ao design dos anos 80, tapete natural, iluminação intimista e, principalmente a valorização do ambiente de convívio, onde televisão não entra”, contaram.