Em sua clínica no Centro Médico do Hospital da Bahia, o cirurgião plástico Tiago Amoedo recebe, semanalmente, dezenas de mulheres insatisfeitas com a aparência. Essas insatisfações poderiam gerar o simples desejo de mudar, mas, antes disso, elas quase sempre atrapalham a carreira, relacionamentos e freiam mudanças que são extremamente necessárias. No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o site Michelle Marie traz uma entrevista para mostrar como a cirurgia plástica pode servir como aquele ‘empurrãozinho’ imprescindível para uma mudança comportamental.
Michelle Marie – Até que ponto a forma como a mulher se enxerga pode atrapalhar projetos de vida?
Tiago Amoedo – Isso é mais comum do que podemos supor. A imagem que constituímos de nós mesmos explica muitos comportamentos e atitudes. Uma mulher de bem com o espelho, que se aceita do jeito que é, sem dúvida, está pronta para enfrentar qualquer desafio. Ela é segura, convicta de si e acredita piamente no seu poder de mudar as coisas em seu favor. O contrário também é verdadeiro. A mulher que tem uma baixa autoestima, não raramente, se esconde, evita mudanças, teme ser rechaçada e começa a desacreditar em si. Às vezes, ela sequer associa os problemas da vida à insatisfação pessoal, mas a relação existe e interfere no cotidiano.
MM – Então é real aquela história de que tudo ao redor só estará bem se estivermos bem conosco?
TA – Com toda certeza! A mudança começa dentro da gente. Estar bem, sentir-se bem, enxergar-se bem é o começo de tudo. Eu tenho experiências diárias no consultório. Por lá, por exemplo, aparecem mulheres que tiveram filho e estão insatisfeitas com seu corpo, não usam mais biquíni e, às vezes, só aceitam transar com o marido se a lâmpada estiver apagada. Quando elas decidem fazer uma cirurgia para ganhar um novo contorno corporal, as mudanças vão além daquelas vistas no espelho. Essa mulher ganha disposição, autoestima, coragem, passa a se perceber de uma forma diferente. Os relatos são os mais diversos: da melhora no casamento à liberdade para usar uma roupa mais justa ou ir à praia sem precisar se esconder embaixo de um maiô folgado. A rigor, a possibilidade que esta mulher passa a ter de viver plenamente é muito mais importante do que qualquer resultado estético.
MM – Em sua opinião, esse impacto positivo no psicológico seria o grande ganho da cirurgia plástica?
TA – Nossa identidade nada mais é do que a soma das experiências vividas com a percepção que os outros têm da gente e aquela que temos de nós mesmo. Se há algum descompasso, assimetria ou algo com o qual não estamos satisfeitos, a mudança é recomendada, desde que assistida por um profissional competente. No final, o que se deseja é o bem-estar da paciente. A partir do momento em que conseguimos elevar a autoestima, afastamos problemas como a depressão, por exemplo. Além disso, a forma de estarmos no mundo faz com que os outros nos enxergue de uma forma diferente. Diante de tal benefício, o que poderia estar em primeiro plano - neste caso, a estética – passa a ser consequência.
MM – Historicamente, a beleza sempre foi mais cobrada da mulher. Hoje, além de ser bonita, ela precisa ser inteligente, interessante e bem-sucedida. Há também o apelo da mídia na busca pelo corpo perfeito. Não é um bombardeio de obrigações?
TA – Sim, e a gente sabe que nem sempre é possível cumprir todos esses papéis. O mundo masculino sempre foi cruel com as mulheres. A cada espaço conquistado por elas, mais cobranças vieram. Na verdade, com o passar do tempo, a mulher acumulou funções, mas hoje ela está mais ciente de seu lugar na sociedade, luta por seu espaço e mostra que é possível ser multifacetada. Por isso, estar bem consigo mesma é essencial para dar conta das inúmeras demandas do dia a dia. Sem dúvida, com amor próprio e uma boa dose de satisfação pessoal elas conseguem encarar qualquer desafio, enfrentar qualquer mudança, dar uma guinada na vida e escolher a melhor forma de ser feliz.